domingo, 1 de novembro de 2015

Transgênicos não são alimentos, são mercadorias, diz médico argentino

FONTE: Vermelho
1 de novembro de 2015 - 8h26

O médico argentino e membro da Rede Popular de Médicos da Argentina, Javier Balbea, esteve no Brasil para participar do seminário “A realidade dos agrotóxicos e transgênicos no Brasil e seus impactos sobre a saúde humana e ambiente”, que ocorreu durante Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

"As tecnologias não são neutras. Elas são instrumentos políticos e algumas servem a determinados poderes para implementar determinadas ações"

Em entrevista ao Saúde Popular, Balbea critica o uso dos transgênicos e agrotóxicos, pois acredita que eles são uma tecnologia que serve ao propósito de dominar os territórios dos países produtores.

Para o médico, o ato de comer e produzir alimentos está ligado diretamente à cultura dos povos, e isso está sendo ameaçado. “A produção transgênica é de mercadoria, não de alimentos. Isso vai na contramão da cultura dos povos”.

Confira abaixo a entrevista de Javier Balbea ao Saúde Popular:

Qual o propósito de uma tecnologia como os transgênicos?
As tecnologias não são neutras. Elas são instrumentos políticos e algumas servem a determinados poderes para implementar determinadas ações.

Se uma tecnologia tem apoio de toda a indústria, vai ser criado um processo de legitimação social para que as pessoas a aceitem.

No caso dos transgênicos, eles servem para a dominação de alguns territórios pela produção de commodities [produtos primários] a favor do capital.

Você disse que comer é um ato cultural. Como os transgênicos mudam nossa forma de comer e produzir?

O alimento é muito mais que nutrientes. Às vezes, comemos sem ter fome, por uma relação social que se estabelece ao redor de produzir e preparar os alimentos.

Quando deixamos de produzir alimentos e passamos aos produtos transgênicos, que são mercadorias, não existe essa relação, porque é uma produção que vai na contramão da cultura dos povos.

Na Argentina, por exemplo, não temos a cultura de comer soja, mas temos uma expansão da fronteira agrícola baseada no cultivo de soja. No Brasil é o mesmo. É uma produção feita, especialmente, para a exportação, que atende ao interesse de outras nações.

Além disso, vários estudos mostraram que ingerir produtos transgênicos gera doenças, como mudanças no tubo digestivo, além da química associada ao produto geneticamente modificado: não há transgênico que não tenha em sua composição agrotóxicos.
Por que países como Brasil e Argentina continuam a usar agrotóxicos comprovadamente perigosos, que foram banidos em outros países?

Esses países, principalmente na Europa, decidiram por pressões populares e outros motivos que esses venenos causam danos à saúde. Mas em países como Brasil e Argentina, onde é mais fácil manipular a política, o uso continua.

São países que não são verdadeiramente soberanos, não podem articular suas próprias políticas; eles respondem às políticas que se desenvolvem nos países capitalistas centrais. Dependem dessa economia que se decide em outro lugar e é aplicada nos seus territórios. Há uma liberdade e impunidade que permite atravessar o direito dos povos.

Por que há um silêncio da comunidade científica sobre muitas denúncias e questionamentos em relação aos transgênicos?
Acredito que por é falta de conhecimento, pelo tipo de formação que existe, que naturaliza essas tecnologias como algo indispensável para a economia e a sociedade.

É o paradigma de que a economia pesa mais que a vida. Toda nossa vida passa pelo consumo. O econômico tem um valor que está acima de qualquer outro direito, é a forma de funcionar da sociedade.

E quando se pensa que não há alternativa, é uma vitória para essa forma de pensar dominante, que não nos deixa acreditar que há formas de produzir sustentáveis e que a saúde é algo utópico.

Mas, cada vez mais, o debate se vai dando de forma maior, em lugares mais importantes. O acúmulo de informação e o mal estar social que vai se gerando através desse tema já não permite que alguns olhem para o outro lado [e ignorem o assunto].

E como a rede de médicos da Argentina contribui para esse debate?
Quando os cientistas vão contra os interesses da indústria, eles são perseguidos, deixados de lado de cargos e carreiras, apenas por publicar o que acreditam ser correto.

É preciso ter um espaço onde os médicos, os profissionais da saúde e outras disciplinas se sintam seguros de poder investigar e compartilhar a informação.

Já realizamos três congressos de saúde ambiental, com pessoas que participaram de discussões sobre transgênicos, agrotóxicos, de modelos produtivos diferentes.

Esse processo criou uma união de cientistas comprometidos com a saúde e a natureza da América Latina. A rede tem sido um espaço que permite criar e contestar, sem que essas pessoas se sintam perseguidas pela indústria, tenham apoio e espaço para pensar outra ciência que esteja a favor dos interesses do povo.

Fonte: MST

terça-feira, 27 de outubro de 2015

O novo supermercado biológico de Lisboa tem de tudo. Até um restaurante


Gosto muito de divulgar as iniciativas de fora para que empresários brasileiros possam ter grandes ideias por aqui, e assim vamos mudando a qualidade de vidas das pessoas. Olha o que anda acontecendo em Portugal.

Fonte: Observador PT
26/10/2015, 19:073.468 PARTILHAS

À primeira vista parece só mais um supermercado. Mas tudo o que vende, do vinho ao papel higiénico, tem origem biológica ou sustentável. E ainda junta um restaurante à festa. Eis o Biomercado.

O Biomercado não passa despercebido na rua. E há um carrinho cheio de boas razões para lá entrar.

© AutorTiago Pais / Observador
16 fotos

O novíssimo Biomercado, recém-aberto na zona do Saldanha, em Lisboa, não será, em dimensão, o maior supermercado biológico da capital. Mas será seguramente, segundo Tiago Vale, um dos seus responsáveis, “o que tem maior variedade de produtos”. E é por aí que começa a impressionar: todas as secções habituais de um comum supermercado estão aqui representadas — e (bem) ilustradas pela designer Vilma André — com uma oferta exclusivamente biológica ou de origem sustentável.

E isso tanto é válido para os frescos, logo à entrada, como para osbrinquedos ecológicos de bebé, os cosméticos sem parabenos, opeixe pescado à linha, a carne de animais criados ao ar livre ou o ex-líbris da casa, uma garrafeira com mais de 80 referências, na sua esmagadora maioria nacionais. “É a maior garrafeira biológica do país”, afirma Tiago, que garante ter provado todos os vinhos que tem à venda. Um trabalho duro, é certo, mas que alguém tinha de fazer.



A garrafeira do Biomercado inclui mais de 80 referências, quase todas de origem nacional. (© Tiago Pais / Observador)

Os vinhos não foram caso único. Conta o mesmo responsável que antes de as portas do Biomercado abrirem houve um período de “cerca de seis meses de testes”. Nem tudo foi tão divertido como beber desta e daquela garrafa, claro está. Mas esse foi um processo necessário, transversal a todas as secções, para garantir a qualidade e a variedade da oferta. Uma oferta que, diga-se, não está fechada, longe disso. “Os clientes vão pedindo novos produtos e nós vamos acrescentando”, revela Tiago.

Atenção: apesar de se ter mencionado sempre o mesmo nome nome até agora, o Biomercado não é obra de um homem só: Tiago tem como sócio o irmão Gonçalo, tal como ele, “maluco por produtos biológicos”. 
Foi o interesse de ambos por esta área que os levou a ponderar abrir um estabelecimento do género, inspirado em diversos exemplos que iam vendo por essa Europa fora. Quando surgiu o espaço ideal tiveram de agir. Ou sim ou sopas. Foi sim. E também foi sopas. Biológicas e sem batata.



O restaurante tem saladas e massas, com ingredientes para escolher ao momento, frango assado para levar, pratos do dia e aos sábados e domingos serve dois tipos de brunch. (© Tiago Pais / Observador)

“Neste conceito tínhamos espaço para complementar o supermercado com um restaurante”, explica Tiago. Ou seja, para além de se poder abastecer a despensa, também se pode reconfortar o estômago, seja com os pratos do dia, ricos em fibras e pobres em sal, as saladas feitas ao momento à vontade do freguês ou, desde o último fim de semana, com dois tipos de brunch, um mais simples e outro mais complexo. Também a destacar é a opção de levar frango assado para casa. “Como o frango biológico tem de ter no mínimo seis semanas de criação, o nosso meio frango equivale ao frango inteiro normal”, garante o mesmo responsável.

E porque o espaço ainda está em soft opening, não se estranhe ver os funcionários do Biomercado a dar alguns produtos a provar a quem vai passando por lá. Além disso, mais novidades são esperadas nos próximos tempos. E até as prateleiras onde elas surgirão são amigas do ambiente: a respetiva madeira foi reciclada de paletes antigas.

Nome: Biomercado
Morada: Avenida Duque de Ávila, 141 B (Saldanha), Lisboa
Telefone: 96 785 8091
Horário: De segunda a sábado das 09h às 20h. Domingo das 10h às 17h.

Galinhas engaioladas + salmonela. O que estão fazendo com os animais e com a nossa saúde?

Galinhas engaioladas você concorda com isso?
Então porque ainda compra ovos desse tipo de criação? Porque são mais baratos? 
Ovos caipiras e orgânicos vem de galinhas criadas soltas, que correm, tomam banho de areia, esticam as asas, comem insetos, ou seja, levam a vida como deveria ser.
Você vai continuar financiando essa loucura comprando ovos porque são mais baratos?






Tome uma atitude. Acesse aqui



sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Tudo o que você precisa saber sobre a salsicha


Fonte: Revista Galileu


A lógica da produção é não desperdiçar nada do bicho

Sobras variadas de carnes, miúdos, tendões, pele, gordura, amido, proteína texturizada de soja.

É assim que se enche um embutido de massa fina, a famosa salsicha. No fim da desossa de cortes tradicionais de diferentes animais, restos como miúdos e tendões são destinados à fabricação daquela que é a alma do cachorro-quente. 

Mas não é só isso: do osso é raspada a tal carne mecanicamente separada descrita no rótulo, em geral de aves. Essa é a matéria-prima básica da salsicha mais comum, que, por lei, só pode compor até 60% do produto. Depois de finamente triturada, a massa é misturada com água para formar uma emulsão que parecerá uma pasta, quase um sorvete. 
No final do processo, essa pasta é aquecida a 75°C e, em seguida, resfriada. O choque térmico inibe o crescimento bacteriano. Mesmo assim, em casa, recomenda-se fervê-la antes de colocar no pão. Vai que algum bichinho sobreviveu no caminho do frigorífico até a sua casa…



Quer entender melhor? Que tal este vídeo do Youtube?

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Universidade de Pelotas abre chamada pública para adquirir alimentos orgânicos e da agricultura familiar

Produtos vão compor a refeição dos alunos nos restaurantes universitários
Fonte: MDS.GOV.BR
Publicado14/10/2015 15h00,



Brasília – A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) abriu chamada pública para adquirir produtos da agricultura familiar. Os alimentos vão compor as refeições oferecidas em dois restaurantes universitários. A compra de 62,4 toneladas de produtos será feita por meio da modalidade Compra Institucional do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O investimento previsto para a compra é de aproximadamente R$ 600 mil.

Na lista de alimentos estão frutas, verduras, hortaliças, laticínios, doces e grãos. A prioridade de compra será para organizações da agricultura familiar e para produção de orgânicos. Os interessados devem apresentar a documentação para habilitação e proposta de venda na até o dia 28 deste mês, na sede da Fundação de Apoio Universitário (Rua Marcílio Dias nº 939, em Pelotas). A entrega dos alimentos nos restaurantes começa em novembro.

Para acessar o edital da chamada pública, clique aqui.

Saiba mais:

Quem compra
As compras são permitidas para quem fornece alimentação, como hospitais, quartéis, presídios, restaurantes universitários, refeitórios de creches e escolas filantrópicas, entre outros.

Quem vende
Agricultores e agricultoras familiares, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores artesanais, comunidades indígenas, comunidades quilombolas e demais povos e comunidades tradicionais que possuam Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). As cooperativas e outras organizações que possuam DAP Jurídica também podem vender nesta modalidade, desde que respeitado o limite por unidade familiar.

Execução
Até o momento, aproximadamente 60 organizações da agricultura familiar já venderam R$ 97,4 milhões em produtos na modalidade. Pela modalidade, cada família pode vender R$ 20 mil por ano, por órgão comprador, independente dos fornecedores participarem de outras modalidades do PAA e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Os principais produtos comercializados são itens de hortifruti, grãos, laticínios e orgânicos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O que vai no sorvete de morango? Insetos, vagem e urucum

Tem morango também. Mas o sorvete ganha alguns recursos extras para ficar gostoso e atraente: de cana-de-açúcar a uma praga rural

Fonte: Revista Super Interessante

POR Redação Super
Nathália Braga



O INSETO - Corante Carmim
Suco de inseto. É o resultado da trituração de bichinhos chamados cochonilhas, pragas que estragam plantações. Torná-los fonte de corante é um jeito de controlar a população desses insetos, que cresce rapidamente. A indústria de alimentos usa muito o corante: em biscoitos, iogurtes, balas. Mas é preciso juntar muitos para colorir qualquer coisa. Só para cada bola do seu sorvete, são necessários mais ou menos 40 insetinhos.

A COR DE MORANGO - Urucum
Coloral, na sabedoria popular. É outro corante, extraído da semente do urucum, o fruto de uma planta comum na região amazônica. No sorvete de morango, o urucum é misturado ao carmim vindo da cochonilha para criar a cor rosinha. Em outros alimentos, trabalha sozinho: é usado para deixar salsichas e linguiças com um vermelho mais intenso.

O SABOR DE MORANGO - Acidulante ácido cítrico
Morango sem ser morango. Esse ácido é um dos agentes que se misturam à polpa da fruta para reforçar seu gosto. A fonte desse ácido é bem doce: melaço da cana, liberado na produção de açúcar. O ácido surge quando o melaço é fermentado. Em refrescos em pó, gelatina e refrigerante, serve também para adoçar.

A VAGEM - Goma jataí
Uma gosma extraída de uma vagem. Uma vagem específica, de uma planta típica da costa do Mediterrâneo, chamada alfarrobeira. A alfarroba (como se chama a vagem) tem uma cor marrom, de tom escuro, e se parece com um feijão. Entra no sorvete para deixar a massa mais consistente.

O CREME - Carbonato de cálcio
O parceiro da goma jataí na tarefa de deixar o sorvete mais cremoso. Vindo de conchas, casca de ovo e minerais triturados, é um pó branco rico em cálcio - aquele que deixa nossos ossos mais fortes. É usado para dar mais consistência também a outros alimentos, como biscoitos, pães e a ração que damos a cachorros.

Fontes Kibon; Ana Lúcia do Amaral, coordenadora de engenharia de alimentos / UFRJ; Cinthia Spricigo, professora de engenharia de alimentos / PUC-PR; Eliana Ribeiro, professora de engenheira de alimentos / Instituto Mauá de Tecnologia; Mabel Batista, coordenadora de engenharia de alimentos / UFPB; Maria Inês Harris, membro do Conselho Regional de Química de São Paulo; Valmir Eduardo Alcarde, coordenador de engenharia de alimentos / Unimep.

Comentando a notícia:
Sempre que vejo essas fórmulas fantásticas para fazer um alimento tão simples quanto um sorvete de morango me pergunto, será que as pessoas não ficam preocupadas com toda essa química em seu organismo?
Será que as pessoas realmente acreditam que as Industrias Alimentícias estão preocupadas com a nossa saúde? Será que elas percebem que quase tudo o que comem hoje em dia é processado, pouca coisa viva? 
Que tal pegar alguns morangos, cortar banana em rodelinhas e levar tudo ao freezer. Quando congelar bater no processador ou liquidificador e tomar, prontinho o seu sorvete de morango, difícil? 









terça-feira, 22 de setembro de 2015

Crianças estão entre as principais vítimas dos efeitos nocivos dos agrotóxicos no Brasil

Dados inéditos da USP indicam que entre 2007 e 2014 foram notificadas 2.150 intoxicações somente na faixa etária de 0 a 14 anos de idade; número pode ser 50 vezes maior
Fonte: Rede Brasil Atual - por Cida de Oliveira publicado 04/09/2015 11:18ELIANA DE SOUZA LIMA/EMBRAPA


Adoecimento: é comum a pulverização de veneno sem equipamento de proteção

São Paulo – Crianças e adolescentes estão entre as principais vítimas dos efeitos nocivos dos agrotóxicos. Um estudo do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), com base em dados do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostra que entre 2007 e 2014 foram notificadas em todo o país 2.150 intoxicações somente na faixa etária entre 0 e 14 anos de idade. O dado, alarmante, não reflete o real, que pode ser 50 vezes maior. Isso porque de cada 50 casos de intoxicação por esses venenos, apenas um é notificado no serviço de saúde.

Os dados, inéditos, foram apresentados pela professora Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) durante o seminário Impacto dos Agrotóxicos na Vida e no Trabalho, realizado quarta-feira (2) na Câmara dos Vereadores de São Paulo.

Promovido pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, entre outros parceiros que lutam pelo banimento agrotóxicos e das sementes transgênicas no Brasil, o evento integra a programação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), que está divulgando a atualização de seu Dossiê Impactos dos Agrotóxicos na Saúde.

Estudiosa do tema, a professora conta que só entre 1999 e 2009, o Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostra que foram registradas 62 mil intoxicações por agrotóxicos no país.

"São 5.600 intoxicações por ano, 15,5 por dia, uma a cada 90 minutos. Nesse período houve 25 mil tentativas de suicídio com uso de agrotóxico. O dado é alarmante, representando 2.300 casos por ano. São seis por dia”, afirma Larissa, reforçando para o fato que o dado pode ser 50 vezes maior.

Para o presidente do Consórcio de Segurança Alimentar do Sudoeste Paulista e dirigente da Federação da Agricultura Familiar de São Paulo, José Vicente Felizardo, as crianças sempre estiveram expostas a esses venenos no campo, principalmente na plantação de tomates, que predomina em sua região. Ele conta que até o ano 2000 a contaminação na faixa etária entre 5 e 14 anos ocorria durante o trabalho, quando essas crianças manuseavam agrotóxicos, "temperando a calda" – fazendo a diluição. "Eram comuns mortes de crianças", conta.

Conforme ele, as denúncias não surtiam efeito. Até que em 2000 uma criança de 5 anos morreu depois de beber agrotóxico. "Ela estava na roça com a mãe. Bebeu agrotóxico. Conseguimos mobilizar a imprensa, mostrando as embalagens. Desde então, a coisa começou a caminhar."

No entanto, pouca coisa mudou. Segundo Felizardo, crianças pequenas ainda são levadas às roças de tomate pelas mães. "Elas ficam dormindo na sombra enquanto a mãe trabalha. E na hora de pulverizar, a criança é pulverizada junto. Por isso, os números não surpreendem.”

Os venenos afetam também a saúde dos mais velhos. Conforme Felizardo, nos acampamentos de tomate é comum os trabalhadores, ainda adolescentes, desenvolverem depressão e alcoolismo. "Não são raras as tentativas de suicídio, todas sem registro. Na região de Jaú, se a gente ver as pessoas que estão fazendo tratamento de câncer, a maioria está exposta aos agrotóxicos", conta Felizardo.

O dirigente chama ainda a atenção para o assédio, desleal, da indústria do veneno. Em sua região há poucos técnicos. "Se reunir todos os agrônomos do poder público, temos em torno de 40 técnicos para assistência técnica. Uma empresa na cidade vizinha tem, sozinha, 36 agrônomos, cada um com um carro, que sai a cada propriedade vendendo os agrotóxicos. E a cada 15 dias fazem palestra, faz churrasco e bebida e chama os agricultores para fazer propaganda. É muito diferente a atenção. É desleal."

Desde 2009, o Brasil lidera o consumo mundial desses venenos, utilizando sobre suas lavouras um quinto de todo o agrotóxico produzido no mundo. Tamanho consumo está provocando uma verdadeira epidemia, silenciosa e violenta, colocando em risco a vida e saúde dos camponeses, trabalhadores rurais e seus familiares, em contato direto com o produto, e a população da cidade, que consume alimentos cada vez mais encharcados.

Cancerígeno, glifosato não é detectado por testes da Anvisa em alimentos

Em março passado, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o glifosato, presente em herbicidas como o Roundup – um dos mais utilizados no mundo – como cancerígenos prováveis para o homem.

"Porém, a presença do veneno não é avaliada pela Anvisa em seu monitoramento de agrotóxicos nos alimentos", alerta a professora da Universidade Estadual do Rio do Janeiro (Uerj) e pesquisa da Fiocruz Karen Friedrich, que está entre os 44 autores do Dossiê da Abrasco.

De acordo com a Anvisa, as amostras dos alimentos são encaminhadas aos laboratórios, cuja análise é realizada pelo método analítico de “multirresíduos”. O método rápido, utilizado em outros países, analisa simultaneamente diferentes ingredientes ativos de agrotóxicos em uma mesma amostra.

Porém, esse método não se aplica à análise de alguns ingredientes ativos, como o glifosato, o 24D e o etefon, entre outros, que demandam metodologias específicas e onerosas. Considerando o cenário atual relativa à larga utilização do glifosato e de reavaliação deste ingrediente ativo, a Anvisa está trabalhando para pesquisar o glifosato em algumas culturas agrícolas a partir de 2016, principalmente nas transgênicas e nas culturas em que ocorre o uso como dessecante antes da colheita.

Segundo Karen, isso é grave, já que os alimentos podem conter doses elevadas do veneno. "Se não há limite de segurança, ou seja, o agrotóxico é nocivo à saúde em qualquer quantidade, imagine em grandes doses." Segundo a própria Anvisa, 70% dos alimentos têm agrotóxicos, alguns deles com quantidades bem acima do tolerado.

Alimentos que parecem saudáveis, mas não são

Fonte: FOREVER YOUNG Por Sandra M. Pinto  14:51, 6 Maio 2022 Conheça-os aqui e ponha-os de lado Peito de peru processado:  Tem uma grande qu...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Feiras Orgânicas