Feira orgânica da AAO: maior diversidade alimentar e preço justo. FOTO: Acervo AAO
Alimentos orgânicos não são mais caros do que os convencionais. Em muitos casos, chegam a ser até mais baratos do que os alimentos produzidos com o uso de agrotóxicos e adubos químicos sintéticos e em vários outros têm preços idênticos aos dos convencionais. Um caso exemplar é o rabanete, que serviu para ilustrar a capa de um caderno especial de um grande jornal de São Paulo, na Semana do Meio Ambiente, no início de junho deste ano. Na foto da capa, o rabanete aparece dentro de uma caixinha própria para embalar joias, como se fosse, como o jornal definiu, um “artigo de luxo”.
Ironicamente, porém, em um levantamento em três pontos de venda feito pela Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo (AAO), juntamente com o Instituto Kairós de Ética e Atuação Responsável e também com o Instituto 5 Elementos, justo o rabanete convencional estava mais caro do que o rabanete orgânico. No supermercado, o maço de rabanete convencional estava exatos 9% mais caro do que aquele produzido de acordo com os preceitos da agroecologia.
O levantamento foi feito entre os dias 15 e 25 de junho de 2013, em três lugares: na Feira de Orgânicos da AAO, realizada todas as terças, sábados e domingos no Parque da Água Branca, na zona oeste da capital; na feira livre convencional dominical do bairro de Santa Cecília, também na zona oeste, e no supermercado Pão de Açúcar da Avenida Angélica, no distrito da Consolação. Entre as redes de hipermercados estabelecidas no Brasil, esta é a que mais investe na comercialização e no marketing de produtos orgânicos.
A pesquisa de preços ficou a cargo da engenheira agrônoma voluntária da AAO, Ira Helal, e a apresentação dos resultados foi feita pela representante do Instituto Kairós, Ana Flávia Borges Badue, durante evento promovido dia 27 de junho, voltado principalmente a jornalistas, no auditório da Escola de Astrofísica, no Parque do Ibirapuera, zona sul da capital.
A ideia do evento foi justamente, como relata o presidente da AAO, o produtor agroecológico Guaraci Diniz, dar um panorama da situação atual da agricultura orgânica no Brasil e, principalmente, desfazer alguns mitos que, de tanto serem reproduzidos nos meios de comunicação, acabam virando verdade.
Um dos principais é justamente este: o de que alimentos orgânicos são “caros”.
No levantamento feito nos três pontos de venda – e é bom destacar que este levantamento não difere muito da pesquisa frequente de preços que muitos consumidores se dispõem a fazer, em busca de economia – selecionaram-se 56 itens de referência disponíveis em duas bancas de frutas, verduras e legumes de duas produtoras da feira da AAO, a fim de comparar seus preços com os produtos convencionais da feira livre convencional e também com os do supermercado.
Entretanto, apenas 36 itens puderam ser comparados. Quanto aos 20 restantes, ou não eram ofertados nos pontos de venda convencionais; ou estavam fora de temporada ou não havia formato de venda compatível para comparação. “Só aí já se percebe a perda da diversidade alimentar a que estamos sujeitos quando optamos por comprar nosso alimento em supermercados e feiras livres”, diz Ana Flávia.
Efetivamente, dada a padronização obrigatória da maior parte dos FLV encontrados nos supermercados e feiras livres (que se abastecem principalmente na Ceagesp, em São Paulo, o maior entreposto distribuidor de alimentos da América Latina e que também segue essa rígida padronização), fica difícil vender vegetais cultivados em baixa escala, como os ofertados diretamente aos consumidores pelos produtores rurais, característica típica das feiras orgânicas. Entre os vegetais que não puderam ser comparados estavam, por exemplo, a azedinha, a serralha, a mostarda e a taioba – alimentos típicos da roça, riquíssimos em nutrientes, porém praticamente inexistentes nas gôndolas dos supermercados.
No levantamento, a tese de que os orgânicos, ao menos setor de FLV (frutas, verduras e legumes) não são necessariamente mais caros do que os convencionais se confirmou. Em alguns casos, principalmente quando se compararam os preços da feira orgânica com os do supermercado, os alimentos convencionais eram até mais caros. Além disso, principalmente nos supermercados havia diferença notória de tamanhos de produtos em relação aos ofertados na feira da AAO. Nos supermercados, por exemplo, conforme relata Ira Helal, os maços ou unidades de coentro, alface, acelga, couve manteiga, cenoura, rabanete, brócolis, cheiro-verde e cebolinha, entre outros, são bem menores dos que os da feira orgânica. “Ou seja, além de pagar mais caro pela unidade dos convencionais, o consumidor está levando para casa menos produto e ainda menos saudável do que o orgânico. Paga mais, e leva menos”, define a agrônoma.
Veja alguns dados observados:
Na comparação de preços entre a feira orgânica da AAO e a feira livre convencional do bairro Santa Cecília, 31% dos alimentos comparados (orgânicos X convencionais) tinham preço idêntico; em 20% os alimentos convencionais eram mais caros em relação aos orgânicos da AAO e, em 49%, os orgânicos da AAO eram mais caros do que os produtos convencionais idênticos. Ou seja, se o consumidor optar pelos orgânicos da feira da AAO, em pelo menos 51% dos produtos comparados ele vai comprar pelo mesmo preço do convencional ou até abaixo do preço do convencional;
Na comparação dos preços da feira orgânica com os do supermercado Pão de Açúcar da Av. Angélica, a relação muda bastante. Em 11% dos produtos, os preços dos orgânicos e dos convencionais eram idênticos; em 36%, os orgânicos da AAO eram mais caros do que os convencionais do supermercado e, em 53%, os itens da agricultura convencional eram mais caros do que os orgânicos da AAO. Novamente a comparação: se o consumidor optar pelos orgânicos da feira da Água Branca em vez dos FLV do supermercado, poderá obter, em 64% dos casos, preço idêntico ou mais barato do que o preço dos alimentos convencionais.
Ou seja, já não dá mais para generalizar e falar que produtos orgânicos são SEMPRE mais caros. E fica claro que a compra em feiras orgânicas, diretamente do produtor, é a forma mais econômica de consumir alimentos provenientes de uma agricultura limpa, que prima pela preservação dos recursos naturais. Além disso, Ira Helal, em seu levantamento, lembra de algumas questões importantes na relação produtor/consumidor. “Ao comprar diretamente do produtor – como na feira orgânica –, o consumidor tem ricas informações sobre o alimento diretamente de quem o produziu, e não por meio de uma etiqueta (obrigatória) nos FLV embalados dos supermercados”, diz. “Ele pode saber sobre o sistema de produção, a história do sítio, condições de cultivo e transporte, melhor maneira de preparar o alimento, numa relação direta e enriquecedora”, diz Ira Helal. Nem mesmo na feira livre convencional essas informações são fáceis de obter, já que os feirantes são intermediários dos intermediários; não são produtores. “Na feira de Santa Cecília, apenas dois produtores fazem venda direta”, completa Ira Helal. Sem deixar de mencionar que, optando pela compra direta, o consumidor estimula mais ainda a cadeia de produção de alimentos saudáveis e também ajuda na manutenção econômica do pequeno produtor, perfil de quem trabalha nas feiras orgânicas.
É possível saber onde há uma feira orgânica mais próxima de sua casa acessando o site do Instituto de Defesa do Consumidor, o Idec (www.idec.org.br/feirasorganicas), que fez um mapa interativo e sempre atualizado de todas as feiras orgânicas existentes no País, e também de grupos de consumo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá que bom vc estar aqui, em que posso ajudar?